Este blog é uma ferramenta indispensável para divulgar meu trabalho e para um enriquecimento dos que se dedicam a pesquisa em educação.

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OLIVEIRA, Michele Pereira. www.educacaoeinclusao.blogspot.com
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pânico na escola!

Em uma semana vivemos em nossa escola duas situações de pânico total.
Quinta feira passada, vivemos um divisor de águas na Escola Terra Vermelha. O que antes era controlável, desse dia em dianta perdeu o controle. Quinta feira, vivemos uma rebelião entre os alunos, com a presença da PM que foi desacatada por eles e recebida a xingamentos, que em estado de nervosismo a flor da pele, gritava, apontava arma para os "visitantes" que adentraram os muros da escola, causando um pânico geral entre alunos e professores.
O que antes não passava de briga de menino, de palavrões, de ofensas suportáveis, tomou uma dimensão de alerta.
Carro de professor virou alvo, pneu furado, provavelmente em represália ao fechamento do buraco que havia sido feito no muro.
SImbolicamente, o buraco queria dizer muito: insatisfação, descontentamento, liberdade, livre acesso, e a falência do muro da escola.
Hoje, o pânico foi geral - uma pedrada que não se sabe de onde veio acertou em cheio a cabeça de uma menina que passava de bicicleta na rua (por azar, essa menina é sobrinha do chefe do tráfico), e um aluno em LA - liberdade assistida que matava aula no horário, do lado de fora da escola, foi quem a socorreu. Levou-a para casa e voltou. Entrou pelo portão de bicicleta e elegeu um culpado (indicado pelos próprios alunos) - vale ressaltar que foi verificada a participação do eleito na ação e refutada a hipótese - e desferiu-lhe socos no rosto, minutos após, a escola já tinha sido invadida por um traficante armado para matar o aluno que estava escondido e protegido na sala dos professores. CORRERIA TOTAL, GRITARIA GERAL - entre alunos e professores. Minha ação imediata foi comunicar os outros professores do risco que corríamos e fechar sala por sala, tirando os alunos do corredor.  Do lado de fora a bandidada estava de prontidão, esperando o primeiro que saísse, e gritando pela cabeça do menino. A polícia logo chegou para tomar as providências, logo vieram o pai do mesmo e uma tia da menina ferida. Com muito jeito e custo, conseguimos provar a inocência do menino e aliviar sua barra, uma vez que tínhamos certeza da sua inocência.
Quando achávamos que estava tudo controlado, chega-nos a noticia de que a escola seria invadida no turno vespertino. E nos encontramos refém de uma sociedade partida que leva toda uma sorte de problemas sociais para dentro da nossa escola.
Sob o olhar do panóptico de Foucault, a escola ainda, apesar de toda evolução, se estrutura sob a simbologia da fábrica, do hospício, do hospital e da cadeia.
Fábrica, quando ainda tentamos produzir modelos, formas iguais, regidos por um currículo igual sem respeitar as diversidades e os tempos/espaços dos educandos;
Hospicio quando vivenciamso loucuras que nos fazem reféns e que nos torna alienados;
Hospital uma vez que adoecemos na escola e pela escola, e vivemos em uma sociedade altamente doente e, cadeia quando ainda nos damos ao luxo de registrar ocorrênicias, de chamar reforços.
Existe toda uma problemática social que invade sem pedir licença nossas escolas e ainda não nos damos conta disso quando usamos a avaliação para determinados alunos como castigo e a reprovação como solução. Somos reféns da sociedade em que vivemos.

Os discursos presentes eram:

"aqui não tem perdão, fez morre!"
" o menino vai morrer, eles vão matar ele, se não for hoje vai ser amanhã, ele tem que sumir do bairro!"
"se houver aula, vão invadir a escola, esse é o recado da rua!"
"professora, meu irmão está lá embaixo, pode acontecer alguma coisa com ele!"
"meu filho, deixa eu levar ele embora daqui " pais que começaram a chegar para levar seus filhos embora da escola em meio a confusão.
"eu quero ir embora, abre o portão, senão a gente derruba!"
"não foi ele!"
"ele levou três socos na cara, que deu pra escutar o estalo do osso!"
"não pedimos para ninguém fazer nada, minha mãe mandou eu vir correndo pra escola pra resolver, porque ela sabia que eles iam bagunçar a escola."
"vou conversar com eles e pedir pra encerrar o assunto"
"vou "desembolar" a parada com o pessoal do movimento, eles vão dar conta dos socos que meu filho levou na cara, bateu, vai ter que pagar."
"aqui ninguém deixa pra depois"

No facebook as Professoras Luíza Alves de Geografia e  Joyce Alborguetti  de  História, trocaram os seguintes posts ontem dia 19/08/2011:

"Emoção do dia: se sentir na escola de Realengo! A diferença: não teríamos pra onde correr porque os portões (3) da escola estão trancados. Ver seus alunos chorando, e você, mais apavorada que eles tendo que manter a calma, enquanto chegam os policiais. Que des-envolvimento é esse que passa na TV? Que paz é essa? Que porra de educação é essa? Não tem ninguém sorrindo contente em Terra Vermelha com o des-envolvimento que nosso governador berra pra todo país que chegou ao ES" .

Também no facebook a professora Josi Freire de artes postou ontem o seguinte comentário:

".... OBRIGADO SENHOR por td ter acabado bem na escola, pensei que nunca fosse vivenciar coisa assim ...."


Foram momentos de pânico total, imprevisíveis (na dimensão), ou não! nossa escola virou uma panela de pressão, e o medo faz parte do nosso cotidiano, o envolvimento é inevitável, e quando nos damos conta, estamos no olho do furacão, tentando proteger os meninos, tentando trancá-los nas salas e manter a calma. Quase impossível! A gritaria foi geral, o pânico também. Sei que essa é só mais uma das ocorrências, sei que algo pior pode acontecer, e não aconteceu ontem por muito pouco!