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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Etnomatemática



ETNOMATEMÁTICA – UMA NECESSIDADE NO ENSINO MATEMÁTICO

Introdução

Etnomatemática é a matemática praticada por grupos culturais como as sociedades indígenas, grupos de trabalhadores, crianças de uma certa faixa etária, classes profissionais e etc.
Também pode-se definir a Etnomatemática como sendo uma proposta política, embebida de ética, focalizada na recuperação da dignidade cultural do ser humano. Já é tempo de parar de fazer dos trajes tradicionais dos povos marginalizados fantasias, dos mitos e religiões desses povos folclore, da medicina desses povos crime. E da sua matemática trazer à sala de aula curiosidades que proporcionem situações de aprendizagem mais significativas.
Diante das novas necessidades de promovermos uma educação matemática consistente e que proporcione uma formação crítica de nossos alunos podemos nos ater aos novos paradigmas da educação matemática.
Diante disto podemos citar os seis novos paradigmas a serem superados em nossas salas de aula:
• Currículo
• Responsabilidades e Funções Profissionais
• Política e Administração
• Desenvolvimento e Crescimento Profissional
• Organização Estrutural
• Conexões Externas

1 – Etnomatemática

Todas as culturas e todos os povos têm desenvolvido metodologias próprias e complexas para saber, explicar e modificar a própria realidade, e, reconhecer que essas idéias, bem como as culturas onde elas estão enraizadas, são parte de um processo natural, constante, dinâmico, de evolução e de crescimento.
Aproveitar um conceito proveniente da antropologia cultural, nenhuma maneira para resolver um problema é melhor ou pior do que a outra, há que se valorizar, entretanto, a resolução de tal problema sem se ater a maneira como
foi resolvido.
Cada forma de resolve-lo tem evoluído em direção às soluções de problemas que são únicos para realidades únicas. A etnomatemática não é somente a matemática, pois é mais abrangente, incisiva e dependente das outras disciplinas.
Busca a etnomatemática, entender as diferentes realidades com a utilização dos diversas metodologias que os povos em sua evolução desenvolveram para encontrar explicações que visam aumentar o entendimento do mundo, do espaço e do tempo de cada cultura.
De acordo com D’Ambrósio, a matemática que se ensina hoje nas escolas está morta do ponto de visita da motivação contextualizada: poderia desde já ser
tratada como fato histórico.

Pode-se definir a etnomatemática da seguinte maneira:

Etno:

- Contextos culturais
- Linguagens específicas
- Códigos de comportamento
- Simbologias
- Práticas sociais
- Sensibilidades


Matema:
- Conhecimento
- Explicação
- Compreensão
- Etnomatemática


Tica
- “techne” (raiz etimológica dos termos “arte” e “técnica”)


Assim, juntando-se as definições acima citadas, a etnomatemática
compreende o estudo comparativo de técnicas, modos, artes e estilos de explicação, compreensão, aprendizagem, decorrentes da realidade tomada em diferentes meios naturais e culturais.
De acordo com as necessidades encontradas nas salas de aula e das dificuldades que durante anos acompanham nossos alunos no ensino/aprendizagem da matemática e visando desmistificar seu ensino, devemos lançar mão de atividades que enfatizem a criatividade lúdica que permeia muitos jogos infantis e trazê-los para a sala de aula, brincadeiras e até a confecção de brinquedos foi se adaptando a uma realidade muito mais prática. Desta forma, nossos alunos, cada vez mais, participam de atividades que se caracterizam pelo movimento, velocidade de informação e pela praticidade, como jogos virtuais, internet e brinquedos eletrônicos. Não há educação matemática se esta não for paralela a busca de soluções de problemas da matemática do dia a dia. A fim de enriquecer a prática pedagógica do professor, no envolvimento dos alunos na busca do conhecimento histórico dos jogos, na solução de problemas cotidianos a etnomatemática vem para auxiliar e embasar estudos, uma vez que ensinar matemática também é estudar matemática para buscar maneiras mais simplificadas e mais contextuaizada para transmiti-la em forma de conhecimento. Assim, habilidades e competências são inseridas de forma contextualiza na sala de aula e a garantia de seu alcance atinge índices mais elevados.
Tal metodologia contempla leituras, oficinas, discussões, atendimentos individualizados e exposição de ponto de vista onde a matemática se mistura e se confunde com outras disciplinas e com saberes pre existentes que enriquecem o processo ensino/aprendizagem, podendo assim o professor lançar mão de diversos conteúdos contextualizados e que se mesclam todo o tempo, formando uma teia de saberes experienciais que levam a um aprender na prática através da experimentação.

Para fundamentar tal pensamento, cita-se alguns questionamentos feitos por Muzzi (2004) em seu artigo intitulado “Etnomatemática, Modelagem e Educação Matemática Crítica: novos caminhos”:

[...] não é hora de buscarmos ressignificar a Matemática com a qual trabalhamos?
(...) Não é hora de buscarmos uma Matemática que instrumentalize o cidadão para atuar e transformar a realidade em que vive? Uma Matemática crítica, que o ajude a refletir sobre as organizações e relações sociais? Uma Matemática próxima da vida, útil, compreensível, reflexiva? Uma Matemática que não se mostre perfeita, infalível, mas que seja capaz de ajudar a encontrar soluções
viáveis?[...] (MUZZI, 2004, p. 39)

Compementando, D’Ambrósio (1996, p.48):

[...] Etnomatemática como o estudo das várias maneiras, técnicas, habilidades (technés ou ticas) de explicar, de entender, de lidar e conviver (matema) nos distintos contextos naturais e sócio-econômicos, espacial e temporalmente diferenciados, da realidade (etno) [...]


A educação matemática obedecendo uma perspectiva filosófica é desenvolvida principalmente por D’Ambrosio (1993) e propõe uma abordagem holística para a educação. Para se atingir tal abordagem, é necessário compreender o ciclo do conhecimento em todas as suas dimensões, quais sejam: os processos de geração, de organização intelectual, de organização social e de difusão. Para D’Ambrosio (2004), cada contexto cultural possui uma forma de lidar com esse ciclo e o Programa Etnomatemática busca a compreensão dessa forma, como se pode notar nas palavras do
pesquisador:
[...] O Programa Etnomatemática não se esgota no entender o conhecimento [saber e fazer] matemático das culturas periféricas. [...] Naturalmente, no encontro de culturas há uma importante dinâmica de adaptação e reformulação acompanhando todo esse ciclo, inclusive a dinâmica cultural de encontros de indivíduos e de grupos [...] (p. 45).


Ainda para complementar tal pensamento Pais et al (2003, p.4) em seus estudos enfatiza que para se fazer a etnomatemática uma ferramenta didática no ensino da matemática devemos nos comprometer com uma educação que se comprometa com:

a) a competência crítica, com a qual os alunos poderiam participar no controle dos processos na educação;
b) distância crítica que permitiria estruturar um currículo baseado em problemas e situações verdadeiramente reais em oposição às tarefas elaboradas seguindo um domínio público construído intencionalmente;
c) Engajamento crítico para um pleno envolvimento na educação. (PAIS ET AL, 2003, p. 4)

Assim deve a etnomatemática segundo Monteiro,(2004, p.445) nos permitir pensar no conhecimento como algo impregnado de valores culturais e sociais não fragmentados, constituindo-se de elementos mais amplos que os conteúdos específicos. Esse conhecimento recheado de vida é o que entendo por etnomatemática.
Complementando, em termos de aprendizagem-ensino, por sua vez, poderíamos dizer que a etnomatemática sugere ao professor e à professora fazer contas, tirar conclusões dos educandos, assim como procurar entender como a cultura se desenvolve e potencializa as questões de aprendizagem (DOMITE, 2004, p.420)
Dentro desta perspectiva, é possível afirmar que, no meio cultural, nas brincadeiras, no dia-a-dia, no supermercado e em vários outros locais aprendemos a Matemática. Ela não é ensinada somente na “dita” Matemática Escolar. “A resolução de problemas ocorre como conseqüência, daí adquire significado e sua solução faz sentido” (D’AMBRÓSIO, 1998, p.31), e, a adoção de uma nova postura educacional é a busca de um novo paradigma de educação que substitua o já desgastado ensino? aprendizagem, que é baseado numa relação obsoleta de causa? efeito (D’AMBRÓSIO, 2004, p.51).



Conclusão:

Diante da nova perspectiva da educação em âmbito geral, enquanto professores precisamos rever nossas práticas a fim de atendermos de maneira mais global as necessidades educacionais de nossos alunos para que se tornem cidadãos participativos e críticos em uma sociedade que cada vez impõe novas formas de conhecimento.
A educação é um direito de todos e é dever do professor proporcionar uma aprendizagem significativa e prazerosa aos seus alunos, e apenas na formação continuada, na dedicação ao magistério que faremos a nossa educação uma educação de qualidade e formadora de cidadãos capacitados para uma vida social com igualdade de direitos.
A educação pode não ser tudo, mas é o princípio de tudo.


D’AMBROSIO, U. A Transdisciplinaridade como acesso a uma história holística, In WEIL, P., D’AMBROSIO, U. E CREMA, R. Rumo à Nova Transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento. São Paulo: Summus, 1993. p.75-124.

D’AMBROSIO, U. Etnomatemática e educação. In: KNIJNIK, G. WANDERER, F. e OLIVEIRA, C. J organizadores. Etnomatemática, currículo e formação de professores..– Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.p.39-52.

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer. São Paulo: Ática, 1998.

_________Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

DOMITE, Maria do Carmo S. Da compreensão sobre formação de professores e professoras numa perspectiva etnomatemática. In: KNIJNIK, Gelsa; WANDERER, Fernanda; OLIVEIRA, Cláudio José de. Etnomatemática: currículo e formação de professores. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. p.419-431.


MONTEIRO, Alexandrina. A etnomatemática em cenários de escolarização: alguns elementos de reflexão. In: KNIJNIK, Gelsa; WANDERER, Fernanda; OLIVEIRA, Cláudio José de. Etnomatemática: currículo e formação de professores. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. p.432-446.

MUZZI, M. Etnomatemática, Modelagem e Matemática Crítica: novos caminhos. In: Presença
Pedagógica, v. 10, n. 56, mar./abr.2004. p. 31-39.

OLIVEIRA, Cláudio José de. Etnomatemática: currículo e formação de professores. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. p.39-52.

PAIS, A., et al. Educação matemática crítica e etnomatemática: conflitos e convergências. In:
Conferência Interamericana de Educação Matemática, 2003. Anais... Blumenau: Universidade
Regional de Blumenau e Comitê Interamericano de Educação Matemática, 2003, CD – Card.